“The Substance” é a segunda longa-metragem da cineasta francesa Coralie Fargeat, tendo-lhe valido o prémio de Melhor Argumento na 77.ª edição do Festival de Cannes, onde o filme estreou na competição pela Palma de Ouro. Um body horror com uma clara herança de grandes mestres como Stanley Kubrick, Brian de Palma e John Carpenter, mas em que a extravagância hiperbólica do seu universo comunica muito mais do que um estilo – comunica uma visão. Aliás, berra a plenos pulmões um desespero que é instalado socialmente em cada mulher: “e se o meu corpo for o produto directo daquilo que eu valho?”. 2000 anos de controlo masculino sobre as imagens que chegam às mulheres de “si mesmas” potenciou não só uma obsessão doentia com a perfeição, mas também a indústria milionária da cosmética e intervenções estéticas. E neste mundo ninguém é imune — nem mesmo Demi Moore, que dá pele a Elisabeth Sparkle, uma apresentadora de um programa televisivo de aeróbica que é despedida no dia do seu 50.° aniversário. Desolada, Elisabeth retorna a casa onde se depara com uma inesperada proposta. Um misterioso laboratório oferece-lhe a milagrosa “substância”: se ela a injectar, tornar-se-á a melhor versão dela mesma; em troca, só tem que deixar que esta nova versão ganhe vida enquanto ela hiberna, semana sim, semana não. Uma nova reformulação do clássico gótico “Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde”, mas, como Owen Gleiberman escreve na Variety, «com a capacidade rara de evocar um verdadeiro monstro, não uma massa de carne contorcida, mas uma deformação de espírito».

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